quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

FIQUE POR DENTRO DO QUE NÃO PASSA NA GLOBO... NEM NA TV A CABO

Em artigo, o ministro Geddel Lima (Integração) acusa o religioso de ser “inimigo da democracia” e praticar “terrorismo simbólico”; Roberto Malvezzi, da CPT, rebate: “quem é antidemocrático, o frei ou o governo, que não abriu possibilidades de debate?” 10/12/2007 Tatiana Merlino da redação Passados 14 dias desde o início da greve de fome de frei Luiz Flávio Cappio, o governo federal subiu um tom nas críticas ao religioso. Artigo do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, acusa frei Cappio de ser “fundamentalista” e “antidemocrático”. O ataque, publicado na Folha de S. Paulo sob o título “O inimigo número 1 da democracia”, ocorre logo após uma romaria reunir seis mil pessoas em Sobradinho, em apoio a frei Cappio e contra a transposição (leia reportagem). “Quando numa democracia uma pessoa opta por fazer uma greve de fome e colocar sua vida em risco é porque não lhe resta nenhuma alternativa. Assim, perguntamos: quem é antidemocrático, o frei ou o governo, que não abriu possibilidades de debate?”, questiona o coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Roberto Malvezzi, o Gogó, em entrevista ao Brasil de Fato. Em outubro de 2005, o religioso interrompeu uma greve de fome de 11 dias após o governo se comprometer a abrir um diálogo amplo sobre as alternativas de desenvolvimento para o Semi-Árido e a revitalização do rio São Francisco. Enquanto isso, o projeto da transposição seria interrompido. No entanto, o governo decidiu iniciar as obras em 2007, com soldados das Forças Armadas. Frei Cappio, então, retomou sua greve de fome. “A resposta do governo foi o Exército”, afirmou o religioso, em vídeo (veja aqui). Autoritarismo No artigo publicado pela Folha, Geddel Vieira Lima afirma que o gesto do religioso é “radical” ao tentar impor “uma vontade individual à decisão de um governo legitimamente constituído”. Gogó, da CPT, acredita que o texto reflete a posição intransigente do governo desde o início da obra: “Eles não assumem seu papel autoritário, e quando surge alguém que se opõe ao projeto, tentam transferir esse autoritarismo”. De acordo com o texto do ministro, “Cappio toma emprestada a aura simbólica de sua condição religiosa para colocá-la a serviço de uma militância política baseada num fundamentalismo que só entende a rendição incondicional como resposta. Fundamentalismos (...) são o inimigo público número 1 da democracia”. No texto, o ministro afirma que: “Atropelar os ritos, desprezar o diálogo e ignorar as instituições, numa democracia, é pecado capital”. Na carta que enviou ao presidente Lula para anunciar a greve de fome, frei Luiz afirma que a motivação do início da sua segunda greve de fome foi exatamente o “desprezo ao diálogo” que Geddel acusa o frei: “Protocolei no Palácio do Planalto documento solicitando a reabertura e continuidade do diálogo, e que fosse verdadeiro, transparente e participativo. Sua resposta foi o início das obras de transposição pelo Exército brasileiro. O senhor não cumpriu sua palavra. O senhor não honrou nosso compromisso. Enganou a mim e a toda a sociedade brasileira”, disse o bispo em carta. No artigo publicado hoje, Geddel também afirma que “todo governo tem que levar em conta o que pensa a sociedade.....Governos não são feitos para serem unânimes, em que pese o forte apoio que há ao presidente Lula e à transposição. Governos são feitos para serem legítimos”, disse. Gogó rebate: “Ele está partindo do entendimento de que como o povo elegeu o Lula eles têm legitimidade para fazer qualquer coisa. Temos propostas muito melhores para o Semi-Árido e nem assim conseguimos abertura de diálogo”, critica. Para ele, o governo não sabe lidar com pessoas éticas como frei Luiz Cappio. “eles acham o quê? Que estão lidando com políticos ou empresários com quem fazem acordos e conchavos?”. Romaria de apoio a frei Luiz reúne 6 mil pessoas por jpereira — Última modificação 10/12/2007 17:15 “Estou esperando uma manifestação do governo”, enfatizou o religioso que entra em seu 14º dia de greve de fome; jejum durou 11 dias em 2005 10/12/2007 da redação Uma romaria de seis mil pessoas manifestou, neste domingo (9), apoio a frei Luiz Flávio Cappio em seu protesto contra a transposição do rio São Francisco. O ato ecumênico em defesa do Velho Chico, realizado em Sobradinho (BA), reuniu comunidades tradicionais, trabalhadores ligados a organizações sociais e movimentos populares, além de pessoas ligadas à Igreja e representantes de partidos políticos. Nesta segunda-feira (10), o religioso entra em seu 14º dia de greve de fome. O primeiro jejum de frei Cappio, em 2005, durou 11 dias e foi interrompido após um acordo negociado com o presidente Lula, que prometeu abrir um diálogo nacional sobre políticas alternativas para o Semi-Árido e o rio São Francisco. O religioso retomou a greve de fome porque o acordo não foi cumprido e que o governo decidiu começar as obras do megaprojeto com o Exército (veja reportagem). Frei Luiz voltou a dizer que espera um fim positivo para sua manifestação. “O protesto não tem relação apenas com a minha vida, mas com a dos milhares de nordestinos que têm o rio como meio de vida”, afirmou o religioso à imprensa. “Estou esperando uma manifestação do governo”, enfatizou. A estratégia do Planalto, no entanto, tem sido evitar o diálogo e trabalhar para silenciar o protesto de frei Luiz (leia artigo). Segundo a Folha de S. Paulo, auxiliares do presidente Lula estão preocupados com a repercussão do protesto e procuraram a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para pedir ajuda a convencer o religioso a interromper a greve de fome. Uma das sugestões era a de que o próprio presidente Lula fizesse um contato direto com o frei após a votação da emenda que prorroga a CPMF até 2011, no Senado. Fé na união Durante a romaria, frei Cappio permaneceu a maior parte do tempo sentado dentro da sacristia, conversando com as pessoas que vinham prestar solidariedade. “Fisicamente posso me sentir bastante combalido, mas meu espírito está forte”, afirmou, acrescentando: “Eu não coloco fé nos homens, a fé que nos move é a união que temos para continuar nossa luta”. Representantes de organizações sociais expressaram apoio à luta do religioso. “A atitude do frei Cappio vem no sentido da revitalização da Bacia do São Francisco. Não existe revitalização com a transposição”, afirmou Tomáz Matta Machado, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF). Os participantes da Romaria vaiaram o presidente estadual do PT, Marcelino Galo, que em discurso propôs atuar como interlocutor com o Planalto. Os manifestantes seguiram, ao final do dia, para as margens da represa da hidrelétrica de Sobradinho. Camponeses, pescadores e outros levaram sementes e água. Frei Luiz também participou do ato e, de modo coletivo, fez orações para benzer água, sementes, rio e a todos os presentes. Em seguida, todos jogaram um pouco de água para o rio, como simbologia de dar um gole d’água ao São Francisco. Exército A celebração de encerramento foi acompanhada por militares da infantaria do Exército. Segundo a Folha de S. Paulo, soldados bloquearam a pista sobre a barragem de Sobradinho e impediram a passagem da romaria. Um dos pedidos do frei Luiz para dar fim ao jejum, iniciado dia 27 de novembro, é a retirada imediata do Exército da área da tomada de águas dos eixos Norte e Leste, em Petrolândia e Cabrobó, Pernambuco. Segundo a Articulação São Francisco Vivo, grupos de apoio ao bispo chegaram de todo o interior da Bahia e de outros oito Estados (Alagoas, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe e Tocantins), além do Distrito Federal.

Nenhum comentário: