domingo, 13 de junho de 2010


Deu na Imprensa
Remando contra a maré

O que move candidatos sem o respaldo de estrutura financeira a encararem a disputa pelo governo estado

Flávia Urbano

Eles sabem que a disputa é desigual. Ainda assim resolveram concorrer ao governo do estado, tendo tempo de propaganda reduzido e estrutura de campanha bem aquém daquelas dos candidatos de partidos maiores. Então, o que faz alguém se lançar candidato e logo ao governo do estado sabendo que muito dificilmente vai se eleger? Em comum, nos discursos de Sandro Pimentel (PSOL) e de Simone Dutra (PSTU), está a necessidade, segundo eles, de apresentar ao eleitor uma alternativa diferente que fuja dos nomes tradicionais, "conservadores" e representantes do "neoliberalismo".


Esta é a segunda vez que Sandro Pimentel, servidor da UFRN, é candidato a governador. Em 2006, ele ficou em terceiro lugar na disputa, com 14.172 votos, o equivalente a 0,92% dos votos válidos. Número bem inferior ao da ex-governadora Wilma de Faria (PSB), reeleita com 764.016 votos, e do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB), segundo colocado, com 749.003 sufrágios. Ainda assim, ele considera o resultado um êxito. E acredita que agora, com a experiência acumulada, terá condições de melhorar aquilo que acertou na campanha passada e de corrigir os erros cometidos.

Apesar do histórico, Sandro diz que não está entrando na campanha para brincar. "Estamos concorrendo para ganhar", afirmou e completou: "O que move a gente a se candidatar é a necessidade imperiosa de que o povo do RN tenha uma alternativa diferente. O que a gente vê hoje é os candidatos ditos grandes do ponto de vista econômico e financeiro, possuem o mesmo modelo de projeto. Não avançam com propostas mais sólidas. Podemos ser pequenos do ponto de vista econômico, mas não somos nanicos principalmente do ponto de vista ético".

O candidato do PSOL possui duas propostas principais que dizem respeito ao redirecionamento dos gastos públicos. Sandro Pimentel defende o fim dos investimentos em propaganda e marketing institucionais e o fim da indicação de pessoas alheias à administração para cargos comissionados. "A arrecadação do estado precisa ser direcionada para o povo do estado", argumenta. Outro ponto defendido por ele é o "combate intransigente à corrupção" com maior transparência das contas públicas. "Hoje, existe uma grande balela que tudo se encontra no Portal da Transparência. Não é uma linguagem que qualquer pessoa consiga entender, o que dificulta o acesso às informações", completou.

Já Simone Dutra, diretora do SindSaúde, reconhece a desigualdade do pleito, porém afirma que é movida pela necessidade da classe trabalhadora. Ao contrário de Sandro, Simone tem um discurso claramente socialista, contra o capital e a favor do fim da propriedade privada. "Os trabalhadores continuam perdendo e é necessário a gente ter um pólo para mostrar o outro lado da moeda, colocar o que está ocorrendo. Temos espaço público na mídia para declarar publicamente, colocar as nossas opiniões, o nisso diagnóstico da situação e pontuar as propostas socialistas", argumentou a candidata do PSTU.

Simone Dutra diz que não é fácil defender o socialismo, por causa das experiências mal sucedidas de Cuba e da antiga União Soviética. Contudo, de acordo com ela, os primeiros sete anos de socialismo na União Soviética, até a morte de Lênin, o socialismo conseguiu muitos avanços. O que depois, tanto lá quanto em Cuba, terminou dando lugar a ditaduras militares. "O socialismo é uma necessidade da humanidade porque o sistema capitalista vem destruindo o planeta. Isso é um processo que se não for bloqueado nos levará à extinção. O capitalismo age movido unicamente pelo lucro e o lucro não tem visão humanitária, de preservação do meio ambiente", afirmou. Simone Dutra defende a reestatização de empresas como a Cosern e o fim das penalidades aos trabalhadores. "Veja que nos momentos de crise, com o objetivo de preservar as empresas privadas, o governo injeta recursos e não faz nada para manter os empregos. Porque o governo existe com o objetivo de gerenciar o capital e as três candidaturas que estão aí não representam avanço", disse, lembrando da crise financeira de 2008.

Fonte: Diário de Natal - 13/06/2010

Nenhum comentário: