Iniciada às 6 da manhã da quarta-feira 25, a Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, promete provocar um novo vendaval no meio político brasileiro. As dezenas de policiais que vasculharam escritórios da Construtora Camargo Corrêa em São Paulo estavam em busca de um singular documento, típico produto de quem costuma considerar-se protegido das garras da lei: uma lista de doações ilegais a partidos e políticos. A tal lista, se obtida, poderá revelar muito mais do que as primeiras informações vindas a público nas primeiras horas após a operação policial que prendeu dez suspeitos de integrar uma rede criminosa de lavagem de dinheiro, remessas ilegais ao exterior, desvio de dinheiro público e contribuições irregulares a políticos. Estima-se que, somadas, as fraudes ultrapassariam a marca de 500 milhões de reais. E mais: as doações a partidos não diriam respeito apenas à última campanha municipal, em 2008. Interceptações telefônicas dos últimos vinte dias registraram uma intensa movimentação para abastecer o caixa de partidos diversos. Haveria ainda indícios de corrupção no Tribunal de Contas da União (TCU). A Camargo Corrêa é uma das maiores empresas nacionais. Faturou cerca de 16 bilhões de reais no ano passado, venceu licitações de obras públicas nos planos federal e estaduais, a exemplo de projetos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e no Rodoanel de São Paulo. Segundo o que foi divulgado até o momento, o esquema teria sido arquitetado pela empresa, em parceria com doleiros do Rio e de São Paulo, para enviar dólares irregularmente para o exterior. O esquema alimentaria também o caixa de ao menos seis partidos: PSDB, DEM, PPS, PSB, PDT e PP. Os valores das remessas variavam entre 200 mil e 2 milhões de reais. Quem intermediaria as contribuições da construtora, segundo a PF, seria a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O responsável pela mediação seria Luiz Henrique Bezerra, chefe do escritório de Brasília e ex-assessor do presidente da entidade, Paulo Skaf. Bezerra teria como principais contatos os senadores José Agripino Maia (DEM-RN) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA). Estes cuidariam de levar os recursos às diversas legendas. Em um diálogo gravado, o ex-diretor administrativo e financeiro e hoje consultor da empreiteira Pietro Francesco Giavina Bianchi diz para o diretor Darcio Brunato que o pagamento já havia sido feito. “Foram 300 mil reais para o Agripino e partido” e “outros 200 para Flexa Ribeiro”, conforme a transcrição. Os senadores confirmam o recebimento dessas doações, mas afirmam que elas foram legais. Ao negar as acusações, Agripino Maia apresentou um recibo de doação para o DEM de 300 mil reais, em 15 de setembro de 2008. De acordo com o senador, essa doação foi “transparente” e consta do “balanço do diretório publicado”. Flexa Ribeiro também confirmou ter recebido 200 mil reais de doação da Camargo Corrêa, segundo ele, de forma legal. “Prestamos conta da doação conforme determina a lei”, garantiu. Os nomes do senadores aparecem, porém, mais de uma vez no relatório e haveria outras doações, afirmam integrantes da operação. De acordo com reportagem exibida na quinta-feira 26 no Jornal Nacional, também teria recebido doações, no valor de 100 mil reais, o deputado Mendonça Filho (DEM-PE), candidato derrotado à prefeitura do Recife em 2008. O próprio parlamentar confirmou à tevê ter recebido da construtora uma doação maior, de 300 mil reais, mas garantiu que o dinheiro foi repassado por vias legais. O senador Jader Barbalho também assumiu ter recebido, em nome do PMDB do Pará, 300 mil reais da empreiteira. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, a quem se atribui o sonho de ser candidato a governador de São Paulo, também aparece várias vezes nas gravações. Em um dos diálogos, o vice-presidente da Camargo Corrêa, Fernando Botelho (casado com Rosana, uma das filhas de Sebastião Camargo, o fundador da empresa), conversa com o consultor Bianchi e diz ter sido procurado por Skaf. Botelho, naquele momento, afirma que o presidente da Fiesp havia reclamado da demora no repasse de verbas da construtora.
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