sábado, 16 de maio de 2009

poesia

Trecho de Ode a Walt Whitman.Federico Garcia Lorca
Ouça: [ 56kb ] - necessário Windows Media(Interpretação livre de Antônio Abujamra)
Nova Iorque de lama,Nova Iorque de arame e de morte:Que anjo levas oculto na tua face?Que voz perfeita dirá as verdades do trigo,o sonho terrível das tuas anémonas manchadas?Nem um só momento, velho e formoso Walt Whitman,deixei de olhar a tua barba cheia de borboletas,os teus ombros de bombazina gastos pela lua,as tuas coxas de Apolo virginal,a tua voz como coluna de cinza;ancião formoso como a bruma,que gemias como um pássarocom o sexo atravessado por uma agulha.Inimigo do sátiro.Inimigo da videe amante dos corpos ocultos por tecidos grosseiros.Nem um só momento, formosura viril,que em montes de carvão, vias-férreas e anúncios,sonhavas ser um rio e dormir como um riocom aquele camarada que poria no teu peitouma pequena dor de ignorante leopardo.Nem um só momento, Adão de sangue, Macho,homem sozinho no mar, velho e formoso Walt Whitman,porque nas esplanadas,agrupados nos bares,saindo em cachos das sargetas,tremendo entre as pernas dos chauffeursou girando nas plataformas do absinto,os maricas, Walt Whitman, apontam-te.Também esse! Também! E despenham-sena tua barba luminosa e casta,loiros do Norte, negros das areias,multidões de gritos e ademanes,como os gatos e as serpentes,os maricas, Walt Whitman, os maricas turvos de lágrimas, carne para chicote,bota ou mordedura de domadores.

Sobre o autor:

Federico Garcia Lorca nasceu na região de Granada, na Espanha, junho de 1898, e faleceu nos arredores de Granada em 1936, sendo uma das primeiras vítimas da guerra civil espanhola. É um dos principais dramaturgos e escritores espanhois do sec. XX.

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