segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Internacional

Operadores de transporte na França preveem grande adesão à greve

Trens e companhias aéreas serão paralisados; expectativa é levar às ruas até 3 milhões de pessoas


PARIS - O transporte público na França, principalmente o ferroviário e o aéreo, vai parar em decorrência da greve contra a reforma da previdência, que começa na noite desta segunda-feira, 11, e pode se prolongar para além da terça-feira em alguns setores, segundo informações das próprias autoridades francesas.

A Direção Geral da Aviação Civil (DGAC) informou hoje que comunicou às companhias aéreas que amanhã terão que cancelar 50% dos voos programados no aeroporto de Orly e 30% no maior aeroporto de Paris, Charles de Gaulle. Também terão que ser suspensos por conta da greve dos controladores aéreos 30% dos voos de Beauvais, que fica a pouco mais de 100 quilômetros de Paris.

Para os trens, a quinta greve contra o aumento da idade mínima para a aposentadoria (de 60 para 62 anos e de 65 para 67 para ter direito a uma pensão completa) será ainda maior do que a anterior, realizada em 23 de setembro.

Só será mantida a frequência de um terço dos trens de alta velocidade que circulam no interior da França, em torno de 40% dos regionais e uma porcentagem equivalente dos que operam nas redondezas de Paris. Os trens noturnos que conectam a Espanha com a França foram cancelados, tanto para a próxima noite quanto para a de terça para quarta-feira.

Os sindicatos ferroviários convocaram inicialmente uma greve de dois dias, ou seja, terça e quarta-feira, mas a paralisação tem caráter prorrogável e a partir do dia 13 as assembleias gerais decidirão a cada manhã se os trabalhadores continuam parados na jornada seguinte.

Com este sistema, a greve poderia ser prolongada, em setores-chave como os transportes e as refinarias, até pelo menos o sábado, quando deve haver mais manifestações.

O desafio das centrais é levar para a rua um número de manifestantes tão grande quanto os dos três últimos protestos de 7 e 23 de setembro e 2 de outubro, quando foram reunidas entre 2,5 e 3 milhões de pessoas, de acordo com dados dos sindicatos.

O Governo Sarkozy, embora insista que não voltará atrás na reforma da previdência, que hoje tramita no Senado, se mostra preocupado, já que as pesquisas mostram que a grande maioria da população está a favor da greve de amanhã: 69% aprovam a paralisação e 16% são contra.

Com informações da Agência EFE e do jornal O Estado de S. Paulo

Opressão

No vale-tudo eleitoral, PT abandona as mulheres

Para garantir a vitória no segundo turno, partido renega posições históricas, como a defesa do aborto e do casamento gay

Há algum tempo que o Partido dos Trabalhadores abandonou a luta contra a opressão de mulheres, negros e homossexuais. A defesa já soava como uma mera saudação à bandeira, já que o governo não teve políticas efetivas para estes setores. Mas agora, para vencer as eleições, o partido abandona oficialmente a luta contra a opressão.

Dilma Rousseff vai fazer uma ofensiva religiosa, e o PT discute a retirada da legalização do aborto do programa. O partido avalia que não venceu a eleição no primeiro turno devido ao voto evangélico e conservador, que teria migrado para a candidatura Marina (PV).

O secretário de Comunicação do PT disse que “foi um erro ser pautado internamente por algumas feministas”. Com isso, a decisão do PT poderá ser um marco da ruptura definitiva com o feminismo, que cumpriu um papel importantíssimo na história deste partido. E deixa órfãs as organizações feministas governistas, como a Marcha Mundial de Mulheres.

Rasgando o programa
Dias antes das eleições do 1º turno, o PT já havia percebido a influência que poderiam ter as posições religiosas. No dia 29 de setembro, a campanha reuniu, em Brasília, padres e pastores com o objetivo de ganhar o apoio cristão. Agora, o PT busca conter o que chama de “boataria” contra sua candidatura.


Dilma colocou-se contra até mesmo a um plebiscito sobre a descriminalização do aborto. “Plebiscito divide o país e vai todo mundo perder, seja qual for o resultado”, afirmou. Ela garantiu aos católicos e evangélicos que não irá ampliar a cobertura do Estado em casos de aborto.

Muda muita coisa? Não, apenas oficializa uma posição que já era aplicada. O governo não fez absolutamente nada para descriminalizar e legalizar o aborto. Tampouco garantiu atendimento às vítimas de procedimentos mal sucedidos. Ao contrário, desviou recursos da saúde para pagar juros das dívidas públicas aos banqueiros.

Em 2008, o PT foi parte da Frente Parlamentar em Defesa da Vida e Contra o Aborto, que instituiu a CPI do aborto. Esta comissão, até hoje, só serviu para incriminar as mulheres. Continuando a série de ataques, em 2009, o governo brasileiro assinou um acordo com o Vaticano em que sinalizou a intenção de investir em ações contrárias à legalização do aborto. Em 2010, o governo enterrou a possibilidade de debate sobre o tema: retirou do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) o apoio à descriminação do aborto e as cláusulas que permitiam ampliar os casos de aborto legal.

Matando mulheres
A proibição por si só já constitui um ataque à liberdade que a mulher deveria ter sobre seu próprio corpo. As consequências desta arbitrariedade levam a uma situação desoladora. No Brasil, são realizados, em média, 1,4 milhão de abortos por ano. A morte por aborto é a terceira causa de mortalidade materna no Brasil, e as complicações são a quinta causa de internação de mulheres nos serviços públicos. Os dados são da Sempre Viva Organização Feminista.


Evidentemente, as mulheres mais atingidas são as trabalhadoras e pobres, que não podem pagar para fazer cirurgias em clínicas de qualidade, com a segurança necessária. É justamente nas regiões mais pobres do país, Norte e Nordeste, onde é registrado o maior número de mortes. Para as mulheres da burguesia, na prática, o aborto já é permitido.

Segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Medicina Social (IMS), de 2007, “a criminalização do aborto não reduziu a sua incidência, mas sim tem contribuído para aumentar a sua prática em condição de risco com impactos graves para a saúde e a vida das mulheres”. O aborto é um problema de democracia, de saúde e social.

Para padres e pastores, Dilma disse ser a favor da vida. Na prática, ela entrega à morte centenas de milhares de mulheres trabalhadoras e pobres. Respeitamos imensamente as crenças individuais, mas não hesitamos em dizer: neste tema, as instituições religiosas são contra a vida. Sob o argumento de defesa da vida, deixam milhões de mulheres pobres e trabalhadoras morrerem em função de abortos mal feitos.

Um Estado laico?
O que pode parecer apenas uma disputa eleitoral representa um retrocesso que terá implicações gravíssimas sobre a consciência dos brasileiros. Subordinar o Estado a preceitos religiosos é voltar à Idade Média. Só falta queimar as mulheres que abortam numa fogueira.


A principal recomendação conclusiva do estudo do IMS foi justamente “a busca de soluções eficazes no âmbito da saúde pública, sem interferência de dogmas religiosos”. O governo Lula é responsável direto por este retrocesso. O “respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e garantia da laicidade do Estado” foi uma das cláusulas excluídas do PNDH 3.

Quanto a Serra, este nunca teve compromisso com as trabalhadoras. Antes mesmo de a campanha começar, em maio de 2010, afirmou: “Eu não sou a favor do aborto. Não sou a favor de mexer na legislação”.

Já Marina cresceu nas eleições, em parte por ser contra a legalização do aborto. E é difícil acreditar até mesmo em sua proposta de plebiscito sobre o tema. Marina historicamente condena o aborto e esta proposta serve como forma de escapar do debate.

Mulheres e mulheres
Não basta ser mulher. Aliás, quem não se lembra de Marta Suplicy retirando de seu programa a união civil homossexual para tentar se eleger prefeita de São Paulo? Ou sua campanha, num gesto de desespero, questionar a opção sexual do adversário, Kassab? A campanha foi um divisor de águas e marcou um giro do PT, que veio se completar com a dobradinha para o Senado com Netinho, agressor de mulheres, e agora, com o triste abandono da defesa do aborto e do casamento gay.

A luta feminista é necessariamente de classe. Para as mulheres burguesas, tudo é permitido, tudo se compra. Nós, mulheres do PSTU, acreditamos na força das mulheres trabalhadoras unidas, independente de governo e patrões. Apoiamos e construímos o Movimento Mulheres em Luta.

Nós nos orgulhamos de ter em nosso programa a defesa da legalização e descriminalização do aborto, defendida por nosso candidato à Presidência, Zé Maria, e por todos os outros candidatos no primeiro turno.

Não mudamos de lado. Vamos continuar defendendo o mesmo programa depois das eleições. Para a defesa dos direitos das mulheres, negros e homossexuais, nem Serra, nem Dilma. O voto contra o conservadorismo, no segundo turno, é o voto nulo.

Internacional

Uruguai realiza primeira greve geral contra governo Mujica

O Uruguai viveu um dia de greve geral no último dia 7 de outubro. Trabalhadores das empresas públicas, dos bancos, indústrias, educação e saúde paralisaram quase totalmente suas funções por 24 horas. Já a paralisação no transporte foi parcial, enquanto que no comércio teve pouca adesão. A adesão ao protesto foi considerada grande, sobretudo em Montevidéu, capital do país.

A greve foi a primeira paralisação geral contra o governo de Frente Ampla encabeçado por Mujica, e foi produto da intransigência do governo na aplicação da “Reforma de Estado”, que inclui a Lei Orçamentária e o rebaixamento dos salários. A Reforma de Estado significa um ataque às conquistas históricas dos trabalhadores, onde se pretende liquidar a estabilidade no emprego e sucatear serviços públicos.

A trava das direções
O protesto é sem dúvida alguma um passo adiante para um setor dos trabalhadores que vinham reivindicando a necessidade de unificar todas as lutas em uma só, reunindo assim os trabalhadores do setor público e privado.

No entanto, a direção majoritária do sindicalismo uruguaio tentou fazer de tudo para impedir que o protesto se enfrentasse diretamente com o governo. Por isso, a greve se realizou sob a vazia palavra de ordem de “redistribuição de riquezas”, sem atacar o plano econômico aplicado pelo governo em prol dos empresários – responsável pela concentração de renda no país. Tampouco se realizou a greve geral em um marco de plano de lutas nacional, que pudesse dar continuidade à luta dos trabalhadores.

O setor majoritário da na direção da PIT-CNT (Central Sindical uruguaia) buscou de todas as formas desmontar a greve na direção da central. Chegou a sair em defesa explícita de Mujica e da Frente Ampla, inclusive na imprensa uruguaia.

Contudo, diante do aumento crescente das lutas dos trabalhadores do país, expresso em inumeráveis conflitos, greves, ocupações etc., os sindicalistas pró-governo foram forçados a chamar a greve, mesmo que ainda tentassem salvar as aparências do governo.

No entanto, o próprio processo de luta dos trabalhadores dirá se a greve geral do dia 7 será apenas um abrir de válvula para a crescente insatisfação social (manobra realizada pelo sindicalismo governista) ou se será um ponto de inflexão para as lutas operárias no Uruguai.

A continuidade da luta é fundamental. Por isso, é uma tarefa importante construir uma nova direção que consulte a base de forma permanente e leve adiante as medidas que forem decidas pelos trabalhadores.

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