sexta-feira, 19 de agosto de 2011


SEXTA-FEIRA, 19 DE AGOSTO DE 2011

Movimento

DEBATE LANÇA EM NATAL CAMPANHA PELOS 10% DO PIB PARA A EDUCAÇÃO

Na tarde desta quinta-feira, dia 18, foi lançada em Natal a Campanha pelos 10% do PIB Já para a Educação Pública. O evento deu início à Jornada Nacional de Lutas no Rio Grande do Norte e foi marcado por um debate que lotou o auditório do NEPSA, no Setor 1 da UFRN. A mesa de abertura da atividade contou com a presença do ANDES (Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior), da ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes Livre) e da CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular). Representante das lutas pela educação pública, a professora Amanda Gurgel abriu o lançamento da campanha, defendendo a aplicação imediata dos 10% do PIB (Produto Interno Bruto) no ensino público e rejeitando o novo PNE (Plano Nacional da Educação) proposto pelo governo Dilma, já que o projeto não atenderia as necessidades da educação.

Amanda Gurgel responsabilizou os baixos investimentos dos governos pela precariedade da educação. “É interessante para o governo federal economizar com as áreas sociais para atender ao pagamento dos juros da dívida pública aos bancos, que no ano passado levaram 49% do orçamento do país, enquanto a educação recebeu apenas 2,89% em investimentos.”, disse a professora.

O novo Plano Nacional da Educação (PNE) do governo Dilma também foi alvo das críticas da professora Amanda Gurgel. “A maioria das estratégias desse novo PNE está voltada para a privatização da educação, para a transferência de recursos públicos ao setor privado. Além disso, o PNE prevê um investimento de 7% apenas para 2020 e a educação não pode esperar o tempo de uma geração inteira.”, destacou.

Amanda finalizou apontando uma solução para iniciar as mudanças necessárias na educação pública. “O caos da educação, os baixos salários, a precariedade das escolas, nada disso será resolvido com boa vontade dos profissionais. A única solução é aumentar significativamente os investimentos. Por isso, para iniciar mudanças imediatas, é preciso investir 10% do PIB já na educação pública.”, concluiu a professora.

O professor Almir Menezes, do ANDES, rebateu o argumento do governo federal de que não há recursos suficientes para investir 10% do PIB na educação. “O objetivo do governo é investir 7
% em 2020. O ministro da educação diz que não há recursos. Mas o orçamento da União deste ano prevê R$ 950 bilhões para pagamento dos juros e amortizações da dívida pública. Então como não tem recursos?”, disse Almir.

A estudante de Engenharia Química da UFRN e militante da ANEL, Emy Magalhães, defendeu a expansão com qualidade do ensino superior e criticou as ações do governo no setor. “A ANEL é, sim, a favor da expansão das universidades. Mas essa expansão precisa ser com qualidade, com mais investimentos. Como é possível ter expansão com qualidade se a presidente Dilma iniciou o ano cortando R$ 3 bilhões da educação?
É por isso que a ANEL está na campanha pelos 10% do PIB já para o ensino público.”, defendeu Emy.

A professora universitária Regina Ávila reforçou a necessidade de o movimento ser abraçado por todos para que a luta possa avançar. “Essa luta é uma luta que merece não só o nosso apoio, mas também merece que a gente agarre essa bandeira com as duas mãos. Precisamos assumir a responsabilidade de levarmos à frente essa luta em defesa da educação pública.”, convocou a professora.

Ao final do lançamento, foi formado um comitê em defesa dos 10% do PIB para a Educação Pública. O comitê terá a tarefa de preparar as atividades do movimento para este semestre, entre elas o plebiscito sobre o investimento de 10% do Produto Interno Bruto na educação.

Jornada Nacional de Lutas
Entre os dias 17 e 26 de agosto, ocorre a Jornada Nacional de Lutas do movimento sindical, popular e estudantil. A atividade está sendo convocada por diversas entidades, entre elas a CSP-Conlutas e a ANEL. Várias categorias de trabalhadores já estão organizando suas campanhas salariais, o movimento sem terra segue lutando pelo assentamento de famílias e contra a violência e o fechamento das escolas no campo, além da realização de ocupações de trabalhadores sem-teto que fortalecem a luta por moradia. Durante a jornada de luta, ocorrerão protestos em muitos estados do Brasil, entre eles o Rio Grande do Norte, no dia 19, na Av. Rio Branco, em Natal. No dia 24, uma grande Marcha será realizada em Brasília para defender os 10% do PIB para Educação.

Nacional

Enquanto garante isenções à indústria, Dilma veta reajuste a aposentados

Aposentados que ganham mais de um mínimo não vão ter aumento em 2012. Mas patrões vão ter isenção da alíquota do INSS


Dois pesos e duas medidas. É assim que o governo Dilma trata os trabalhadores e a grande maioria da população e os empresários e banqueiros. Ao mesmo tempo em que anuncia um conjunto de benefícios à indústria, através do programa Brasil Maior, que inclui isenções, subsídios e financiamentos do BNDES, Dilma vetou nesse dia 15 de agosto a emenda da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que previa aumento aos aposentados.

A emenda, que havia sido negociada pela própria bancada governista e a oposição, garantiria recursos para um reajuste real aos cerca de 9 milhões de aposentados que recebem benefícios acima de um salário mínimo. O texto da emenda apenas dizia que “serão assegurados os recursos orçamentários necessários ao atendimento da política de ganhos reais aplicável às aposentadorias e pensões” . O aumento seria definido junto com as centrais sindicais e as organizações dos aposentados.

O veto sinaliza de forma clara a intenção do governo Dilma de não recompor as aposentadorias, na mesma linha do governo Lula, “achatando” os benefícios ao valor do piso. Com o veto, somente as aposentadorias equivalentes a um salário mínimo irão ter aumento real, seguindo o reajuste do salário mínimo, que deve ficar em 2012 entre 13% e 14% se o governo não mudar de ideia. Os aposentados que recebem acima do mínimo, devem ter apenas a reposição da inflação, ou 6%.

O presidente da Confederação Brasileira dos Aposentados, a Cobap, Warley Martins, reagiu com indignação ao veto. “Dilma é traidora dos aposentados. Em todas as oportunidades de melhoria para nosso segmento, ela nos prejudica” , afirmou o dirigente dos aposentados em nota divulgada pelo site da entidade.

Ataques
Vai ser o segundo ano consecutivo que a aposentadoria e os aposentados enfrentam um duro ataque do governo. Em 2010, Lula se despediu da presidência concedendo um reajuste defasado aos aposentados, de 7%, quando o salário mínimo era reajustado a 9%. Além disso, o então presidente vetou o fim do fator previdenciário, aprovado no Congresso após uma ampla mobilização das entidades dos aposentados.

O fator, estabelecido pelo governo FHC, é uma conta que envolve a idade do assegurado, o tempo de contribuição e a expectativa de vida calculada pelo IBGE. Na prática, obriga os trabalhadores a se aposentarem cada vez mais tarde.

Agora, além de vetar aumento real a todos os aposentados, num momento em que a economia cresce, as empresas lucram e o governo tem recordes de arrecadação, Dilma ainda ameaça impor regras ainda mais restritivas à aposentadoria. O governo estuda trocar o fator previdenciário por uma alternativa ainda pior.

Segundo relata a Cobap, o governo elaborou três propostas de substituição do fator. Um deles é aumentar em sete anos o tempo de contribuição, que passaria de 35 para 42 anos aos homens e de 30 para 37 às mulheres. Outra alternativa é o estabelecimento da idade mínima, de 65 anos para os homens e 60 para as mulheres. A terceira hipótese estudada pelo governo é o fator 85/95, que estabelece aposentadoria integral para aqueles cuja soma da idade com o tempo de contribuição totalizar 85 para as mulheres e 95 para os homens. São alternativas piores que o atual fator.

Preparando para a crise
O veto ao aumento das aposentadorias faz parte da série de medidas que o governo Dilma vem tomando desde o início de seu mandato, orientadas para sinalizar ao mercado que o país está empenhado em controlar gastos para enfrentar uma eventual crise econômica internacional. Faz parte dessa política o corte de R$ 50 bilhões do orçamento e o cancelamento dos concursos públicos.

Por outro lado, as isenções oferecidas aos empresários e industriais chegam a R$ 25 bilhões em dois anos, parte delas atingem justamente a alíquota patronal do INSS nas folhas de pagamento.

Antes mesmo que atinja o país, os trabalhadores e a população já pagam o preço dessa crise.

Deu na Imprensa

Professora que virou “hit” na web volta ao trabalho e diz que nada foi resolvido

Amanda Gurgel retomou rotina de aulas após greve e criticou postura dos deputados

Quatro meses após virar hit na web por causa de um vídeo em que critica o descaso com a educação no Brasil, a professora Amanda Gurgel voltou à sala de aula, em escola no Rio Grande do Norte. O fim da greve dos professores no Estado, que durou pouco mais de 80 dias, colocou a docente novamente na rotina exaustante da profissão. Apesar de ter ficado famosa e falado em jornais e TVs sobre o problema, ela admite que ao fim da greve tudo “continua do mesmo jeito”.

Amanda Gurgel conversou com o R7 para contar como foi retornar à escola depois de ficar conhecida no país. Ela avaliou o período em que representou uma das áreas que mais sofrem com falta de investimento do governo.

- Pessoas do Brasil inteiro foram sensíveis o suficiente para compre
ender o caos em que a educação se encontra. Inclusive viram que o problema da educação tinha uma identidade que era eu. Elas estavam me reconhecendo dessa forma. Apesar disso, nada na educação do Rio Grande do Norte mudou. Fizemos uma greve de mais de 80 dias e saímos da paralisação com a mesma proposta que a gente recebeu no começo. A proposta foi mantida até o final, um aumento que não passa do piso nacional.

Assim como antes do início da paralisação e da explosão de visualizações do seu vídeo na internet, a professora acorda todos os dias às 5h da manhã e pega três ônibus antes de chegar à Escola Estadual Myriam Coeli, na capital Natal, onde é responsável pelas aulas de português de 250 alunos dos 2º e
3º anos do ensino médio. O trabalho só termina às 17h30 depois de cuidar de aproximadamente 400 alunos que passam pelo laboratório de informática da Escola Municipal Professor Amadeu Araújo, onde cumpre expediente no período da tarde.

- As pessoas com quem eu convivo, que são meus colegas de trabalho, estão orgulhosas pelo fato de ter uma colega deles falando sobre a rotina dos professores nacionalmente e sendo reconhecida e respeitada por isso. Já os alunos ficam vaidosos por terem uma professora famosa, como eles dizem. Tenho conversado com eles e trabalhado bastante para que não vejam desta forma.

Apesar de seu esforço, ela ainda é vista como celebridade por boa parte de seus conterrâneos. A professora ainda precisa interromper a entrevista com a reportagem para tirar foto com “fãs” que a parabenizam pela sua atitude, característica que Amanda ainda exercita quando argumenta sobre a realidade nas escolas

- Na verdade, os problemas continuam iguais. Os meus alunos não tiveram professores de português no ano passado. Eles estão com conteúdo defasado na disciplina e por mais que eu queira, por mais que eu me esforce, não vou conseguir trabalhar a matéria de dois anos em apenas um [ano letivo]. Não tenho condições. Eles sabem de tudo isso. Tenho me empenhado, mas não está
fácil. Eles estão super-indisciplinados no que se refere a ritmo de estudo e leitura, porque, como passaram um ano sem professor, perderam esse hábito. Tenho tentado manter a tranquilidade, principalmente por causa da concepção de que eu não sou responsável por este prejuízo.

Mas, em pelo menos um ponto, Amanda Gurgel acredita que a d
ivulgação do seu vídeo ajudou. Após milhares de visualizações, a greve ganhou mais força e o governo de Rosalba Ciarlini (DEM) foi prejudicado.

- A governadora [Rosalba Ciarlini] sabe de tudo isso [falta de professor nas escolas]. Mas não toma providência porque o que importa é que os
alunos estejam nas escolas. É um depósito de alunos. A avaliação que a gente faz é que, se não fosse o vídeo, as retaliações do governo [contra a greve] teriam vindo antes. E, por esta repercussão nacional, o governo de Rosalba acabou sofrendo um desgaste especial. A maior vitória da nossa greve é que o governo do Rio Grande do Norte está praticamente falido.

Política

O sucesso do vídeo também proporcionou a Amanda uma visita ao Congresso Nacional. Ela tentou pedir a palavra em uma reunião da Comiss
ão de Educação e Cultura, na qual estava presente o ministro da Educação, Fernando Haddad. Queria reivindicar o investimento de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação do país. Mas não conseguiu falar por questões regimentais.

- Tentei falar lá [na Câmara dos Deputados], mas não foi possível. Vi que os discursos eram pautados na questão da possibilidade, não no que é necessário. Achei um absurdo. Mas serviu para vermos aquilo que já sabemos. Os nossos deputados estão pouco se lixando para a educação. As impossibilidades e limitações são feitas por eles mesmos.

Fonte: Portal R7

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