quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O que há de comum entre Lula e Obama?

Entre eles existem grandes diferenças. A começar pelo fato de que um é presidente da maior potência imperialista e outro de um país dominado, como o Brasil. Um é representante de um partido de direita tradicional dos EUA. O outro de um partido operário reformista no Brasil.
Mas existem também semelhanças. Muitos diriam que os dois representam a esperança para melhor do mundo. Nós dizemos, porém, que ambos simbolizam grandes ilusões e levarão a enormes frustrações.

O efeito Obama

A crise econômica internacional vai produzir grandes mudanças na situação política internacional. Uma crise que já é a mais grave desde 1929 não poderia deixar de ter conseqüências políticas importantes. Podemos dizer que a eleição de Obama é a primeira delas.
Seria impossível a vitória de candidato um negro a presidência dos Estados Unidos caso essa crise não tivesse iniciado. Já existia uma crise política nos EUA, em particular pelos fracassos do governo Bush no Iraque. O surgimento da crise econômica ampliou a crise política: um enorme sentimento de mudança foi canalizado pela candidatura do democrata.
Mas não é só isso que explica a vitória de Obama. A verdade é que a grande burguesia norte-americana o apoiou majoritariamente, como uma manobra preventiva cujo objetivo é evitar uma crise política maior. Essa é a única explicação para o grande financiamento de sua campanha, assim como para sua indicação pelo Partido Democrata.
Respeitamos o sentimento e as ilusões dos trabalhadores de todo o mundo em Obama, em particular dos trabalhadores negros e negras. É natural que acreditem nele. A maioria não analisa a sociedade a partir dos interesses das classes sociais, mas “das pessoas”.

Mas não se pode entender a evolução de uma sociedade a não ser pelo conflito entre as classes. É por isso que o marxismo pode analisar e prever as tendências gerais da evolução da realidade.

É a burguesia norte-americana, a mais poderosa do planeta, que segue no poder nos EUA. Obama é hoje o maior representante das empresas multinacionais que financiam os democratas, e não dos trabalhadores negros. E essa diferença de classe é a que vai prevalecer e não a da cor.
As pessoas acreditam Obama porque também não desejam o agravamento da crise. No entanto, a crise, inevitavelmente, vai se aprofundar. Estamos vendo apenas o seu início.
Queremos afirmar, contra toda essa maré, que a situação dos trabalhadores, ao contrário do que eles pensam, vai piorar com Obama. E a dos trabalhadores negros vai piorar ainda mais.
A crise econômica é sempre descarregada pelas grandes empresas nas costas dos trabalhadores, com reduções salariais e demissões. Os setores oprimidos, como as mulheres e os negros, serão os primeiros a serem afetados.

O efeito Lula sobre a crise

Esse tipo de engano acontece também no Brasil, embora com características diferentes. A maioria dos trabalhadores acredita em Lula. Eles dizem que “é correto que Lula dê dinheiro para os bancos, as montadoras de automóveis e empresas da construção civil. Afinal é para evitar a crise”.
Mas nenhuma destas medidas vai evitar a recessão. Na verdade, esse dinheiro não é para isto, mas para salvar essas grandes empresas. Este é mais um exemplo de como as classes dominantes faz aparecer os seus próprios interesses como os da sociedade.
A maioria já esqueceu que em 1996, Lula repudiou violentamente o PROER (programa de ajuda aos bancos de FHC). Na época, o programa custou 24 bilhões de dólares. Lula já deu para as grandes empresas 179 bilhões de reais, mais de três vezes o que foi gasto com o PROER.
O interesse dos trabalhadores não está sendo contemplado. O governo federal poderia decretar a estabilidade no emprego para os trabalhadores e punir as empresas que demitam. Ou ainda, poderia usar os 179 bilhões que entregou as empresas para dar um salário extra de 345 reais para todos os trabalhadores que ganham até dois salários mínimos.
Com este dinheiro o governo poderia financiar um plano de obras públicas para acabar com o desemprego no Brasil. Assim, o país realizaria um grande mutirão para a construção de seis milhões de casas populares (o déficit habitacional brasileiro) a um custo de vinte mil reais cada, totalizando um gasto de 120 bilhões. E ainda sobrariam 48 bilhões para dobrar o orçamento da saúde.

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