quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Um novo Tio Sam?
Política de “Guerra ao Terror”, criada após o 11 de Setembro, fez de Bush o presidente mais odiado no mundo. Eleição de Obama já provoca recuo na consciência antiimperialista
Jéferson Choma, da redação
Obama oferece ao imperialismo uma excelente oportunidade de reciclar sua imagem perante o mundo. Afinal, ele apresentaria uma imagem muito mais simpática diante da face horrorosa de Bush e suas guerras genocidas. Um presidente negro, filho de um muçulmano, pode ser apresentado aos povos oprimidos como alguém que entende o sofrimento e o preconceito. Que está ao lado da maioria e dos explorados. Assim, forçando identificações onde não há, Obama poderá atrair simpatia e adormecer qualquer reação.
A simples presença de Bush em algum país já era o bastante para milhões saírem às ruas. A combinação das invasões militares com a crise dos planos neoliberais provocou uma consciência antiimperialista difundida em todo o mundo - talvez ainda maior do que a que existiu no auge da luta contra a guerra do Vietnã.
Com Obama, no início será diferente. Agora, dificilmente se realizarão protestos contra sua presença no Brasil ou na África, por exemplo. É até possível que o novo presidente seja recebido com festejos por organizações ligadas à luta contra opressão e o racismo. No futuro tudo isso mudará, mas por agora, a “nova face do imperialismo” vai enganar a muitos.
A opção por Obama é uma forma de a burguesia ianque tentar conter um enorme salto nas lutas em todo mundo. Nesse sentido, a própria eleição de Obama já provoca um recuo na consciência antiimperialista. Assim, seu governo responderia a necessidade de enfrentar a profunda crise do imperialismo e recuperar o papel de liderança dos EUA.

Saindo do Iraque?
Em outros países, um dos temas que mais despertam expectativas no governo de Obama é o da ocupação do Iraque. O democrata prometeu retirar as tropas daquele país em 16 meses, isto é, em maio de 2010. Obama não prometeu devolver os soldados a seus lares, mas sim transferi-los para o Afeganistão, guerra que considera “justa”.
Alguns analistas, porém, mostram-se céticos quanto ao prazo. Primeiro, o Iraque está longe de uma estabilização política e militar. Uma retirada das tropas poderia significar a derrota militar dos EUA. Ao mesmo tempo, a opção por continuar no país seria repetir os mesmos erros de Bush. E há ainda a crise na economia, que exigiria corte de gastos e dificultaria a manutenção de tropas no Afeganistão.
O discurso em relação ao vizinho Irã não tem sido muito diferente do de Bush, que apontava o país como parte de um “eixo do mal”. Durante a campanha, Obama não parou de fazer ameaças ao Irã e exigir o fim da pesquisa nuclear no país.
Ainda que palestinos tenham se alegrado pela derrota dos republicanos, não há sinal de mudanças por parte de Obama em relação à ocupação israelense. Tudo indica que o permanente apoio incondicional a Israel será mantido. Para chefiar seu gabinete na Casa Branca, por exemplo, Obama convidou Rahm Emanuel, conhecido partidário da linha dura pró–Israel que já criticou Bush “por não apoiar o suficiente a Israel”.
Tal expectativa de “mudança” já é também visível até mesmo na América Latina. A figura de Obama tentará recuperar o prestígio político dos EUA na região e impor um recuo na consciência anti-imperialista dos trabalhadores.
Para isso, já conta com a colaboração de governos ditos de esquerda, como Chávez, Evo Morales e Lula. Chávez, que por anos se utilizou de uma retórica anti-Bush, já demonstra os limites de seu suposto anti-imperialismo e saudou a vitória de Obama.
Para onde vão os EUA?
Mas a vitória de Obama não vai fazer com que os EUA deixem de ser o país central da exploração e opressão capitalista. A crise econômica vai recair sobre as costas dos trabalhadores norte-americanos, assim como dos latino-americanos. A exploração imperialista vai se intensificar. Obama não tem a seu favor um novo período de crescimento (como teve Lula), mas o enorme peso de uma crise muito dura.
É possível que surja uma crise de grandes proporções nos EUA. A “mudança” prometida por Obama vai se transformar em uma mudança real...para pior. Caso os trabalhadores dos EUA entrem em luta, poderemos ter uma nova situação política na principal potência imperialista.
O entusiasmo que toma conta de muitos se converterá em frustração na medida em que for se demonstrando que Obama não é mais do que um novo rosto do Tio Sam.

Box

Todos os homens do presidente

Barack Obama foi eleito presidente prometendo levar a mudança para Washington, mas a capital do poder nos Estados Unidos deve rever muitos nomes conhecidos. Logo após as eleições, o democrata já anunciou parte de sua equipe de transição, que integrará seu futuro governo.
O primeiro indicado foi Rahm Emanuel, que será o chefe-de-gabinete de Obama. O indicado atende pelo sugestivo apelido de "Rahmbo" e, como vimos acima, é um ardoroso defensor do Estado de Israel. Quando o asssunto é economia, os principais assessores de Obama são Paul Volcker e Robert Rubin. Volcker foi presidente do FED, o banco central dos EUA, entre 1979 e 1987, nos tempos de Ronald Reagan. Volcker foi um dos pais do neoliberalismo e teve papel fundamental na implementação da globalização capitalista. Nos tempos de Reagan, seu lema era: “as famílias norte-americanas têm que diminuir seu nível de vida”. Evidentemente, as famílias às quais ele se referia não eram as endinheiradas.
O processo neoliberal iniciado por Reagan continuou e foi aprofundado pela administração Clinton. Foi o presidente democrata que mais avançou na desregulação, na privatização e nos tratados de livre comércio. Robert Rubin, homem do capital financeiro e do Citigroup, como secretário do Tesouro de Clinton, foi quem arquitetou essa política. Foi sob sua administração - e não sob a de Bush - que tiveram início as apostas das hipotecas “subprime” e toda a parafernália especulativa que desembocou na atual crise.
Além disso, Obama já cotou Warren Buffett, o homem mais rico do mundo e mega-especulador do cassino financeiro mundial, para ser seu secretário do Tesouro. Outros conselheiros de Obama são Lawrence Summers, ex-Banco Mundial e secretário do Tesouro de Clinton; Jamie Dimon, atual presidente do Banco de Investimento J. P. Morgan; e Timothy Geithner, ex-gerente do FMI.
Como se não bastasse, Obama vai manter alguns funcionários de Bush. O caminho já tinha sido aberto por Colin Powell, que comandou a invasão do Iraque e, nos últimos dias das eleições, declarou apoio à Obama. Com ele está Michael Mullen, diretor da Junta de Chefes do Estado-Maior e um dos principais conselheiros de Bush para questões de segurança nacional, principalmente nas estratégias para o Afeganistão e o Iraque. Mullen, assim como Obama, defende o aumento da ofensiva no Afeganistão.



QUEM É QUEM
Estes são conselheiros e assessores de Obama, o homem da “mudança”

Rahm Emanuel
Conhecido como Rahmbo, será chefe-de-gabinete de Obama. Considera Bush “light” quando o tema é Israel

Paul Volcker
Presidente do FED, o Banco Central dos EUA, durante o governo Reagan

Robert Rubin
Executivo do Citigroup

Warren Buffett
Homem mais rico do mundo, cotado para secretário do Tesouro

Lawrence Summers
Ex-Banco Mundial

Jamie Dimon
Presidente do J. P. Morgan, banco de investimentos

Timothy Geithner
Ex-gerente do FMI

Colin Powell
Ex-secretário de Estado de Bush, responsável pela invasão do Iraque

Michael Mullen
Ex-conselheiro de Bush

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