segunda-feira, 2 de março de 2009

centrais sindicais

Centrais sindicais têm reação tímida à crise
FÁTIMA FERNANDESCLAUDIA ROLLIda Folha de S.Paulo

A atuação das centrais sindicais para enfrentar os efeitos da crise mundial no mercado de trabalho revela despreparo para defender o trabalhador, falta de sintonia com o cenário econômico e social e atrelamento de parte do movimento sindical ao governo Lula -caso da CUT e da Força Sindical, as duas maiores representantes dos trabalhadores do país.
Essa é a avaliação de parte de líderes sindicais e de especialistas que estudam o movimento no país. Para eles, a reação das centrais e de sindicatos é tímida diante da onda de demissões que ocorre no país desde dezembro. O Brasil perdeu 797,5 mil empregos com carteira assinada desde novembro, segundo o Ministério do Trabalho.
Para outra parcela de estudiosos do movimento sindical, as centrais, assim como as empresas, foram pegas de surpresa com a intensidade da crise e tiveram até de aceitar a redução de jornada e de salários para manter empregos -posição defendida pela Força Sindical.
"As centrais sindicais estão enferrujadas. Até setembro do ano passado, o Brasil vivia fase de crescimento econômico e a atitude das centrais era conseguir algo mais para o trabalhador num contexto de expansão. A crise pegou os sindicatos e as centrais desprevenidos para preservar os direitos trabalhistas em uma fase de retração econômica", afirma Ricardo Antunes, professor de sociologia do trabalho da Unicamp.
O que pesa ainda contra o trabalhador, diz ele, é o fato de a Força e a CUT serem "prisioneiras" do governo Lula -cutistas ocupam cargos no governo petista, e sindicalistas ligados à Força, no Ministério do Trabalho. "As centrais ficam também acuadas porque conseguiram vantagens desse governo, como o imposto sindical, que foi estendido a elas."

Em 2008, entrou no caixa de sindicatos, federações, confederações e centrais cerca de R$ 1 bilhão arrecadado com o imposto sindical recolhido de forma obrigatória dos trabalhadores -o valor corresponde a um dia de trabalho. Ao mudar a lei e reconhecer as centrais, o governo Lula permitiu, em 2008, pela primeira vez, que elas recebessem uma fatia no imposto. Até agosto, as centrais receberam R$ 55,6 milhões.
Quando os empresários sentiram o agravamento da crise, diz Antunes, fizeram ajustes, como corte de investimentos, produção e emprego. "Como os sindicatos estavam dessintonizados com o movimento da economia, acreditaram, equivocadamente, que era hora de preservar o mínimo, como aceitar a redução de jornada e de salário. Mas o trabalhador não pode ser penalizado pela crise. E o corte nos lucros das empresas, como fica?"
Posição defensiva
A brusca mudança no cenário econômico, ressalta Wilson Amorim, coordenador de pesquisas da FIA (Fundação Instituto de Administração), levou os sindicatos e as centrais a mudarem rapidamente da posição propositiva para a defensiva.
"Em vez de pressionar por aumento de salário, tentam evitar demissões. Se há algo que o movimento sindical no Brasil sabe fazer é negociar. E a negociação, em um momento de crise como este, tem de ser feita de forma descentralizada, já que a crise atinge setores econômicos de maneiras diferentes", afirma Amorim.
A crise deve contribuir para que o movimento sindical passe por um processo de "amadurecimento", segundo avaliam os especialistas e reconhecem os próprios líderes sindicais.
O que pode ocorrer é uma reestruturação no cenário sindical, com o crescimento de centrais mais ligadas à esquerda e de organizações até então consideradas inexpressivas.

Com o agravamento da crise, as centrais podem ir às ruas para "marcar presença" -e até com certo "atraso", na avaliação de alguns especialistas. Até então, não houve nos dois mandatos de Lula tantas manifestações e críticas ao governo.
"No governo FHC sequer éramos recebidos. No governo Lula, conseguimos construir uma política para o salário mínimo, a correção da tabela do Imposto de Renda, a legalização das centrais e discutir o Bolsa Família. Houve ganhos para o movimento sindical", diz Artur Henrique, presidente da CUT. "Mas criticamos quando é preciso criticar. O governo reduziu o IPI para os carros, só que faltou cobrar a contrapartida de garantia de empregos."
A discussão em torno da redução de jornada e salários, para evitar demissões, encampada pela Força e pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), reforçou, segundo estudiosos, o racha que existe entre as centrais sindicais -o que é ruim, neste momento, para o trabalhador. CUT, Conlutas, CTB e CGTB não aceitam a redução salarial. Enquanto Força e UGT aceitam medidas previstas na lei.

Nenhum comentário: