domingo, 17 de outubro de 2010

Por que é Tão Difícil Ter Governos Progressistas em Países Menos Desenvolvidos, como o Brasil?

Países colonizados, assim como é o caso do Brasil, em geral apresentam grandes obstáculos ao surgimento de movimentos progressistas. Um dos principais entraves ao desenvolvimento de países que são ex-colônias encontra-se na natureza da luta de classes. Tal conflito tem dois aspectos centrais. O primeiro é que por serem ex-colônias, ainda retêm uma elite de principios monárquicos, caracterizada pelo privilégio, conservadorismo, falta de progresso e despreocupação em relação aos que de fato produzem riqueza. O segundo aspecto é que tais países obtiveram suas independências políticas, se industrializaram e se globalizaram, e tal aproximação com países mais desenvolvidos alertou os trabalhadores sobre os movimentos sociais e sobre as subversões socialistas. O entrave em países menos desenvolvidos é justamente este: a justaposição de princípios progressistas com uma elite que efetivamente não pode entregar tais progressos.

O Brasil, como excelente exemplo deste processo, sofre duplamente com a exploração pelos capitalistas e com a exploração pelas elites locais, quase sempre latifundiárias e donas de meios de comunicação regionais. As elites regionais, que têm sua natureza na capitanias hereditárias deixadas por Portugal, buscam suas sinecuras e privilégios em meio à ascendente burguesia. Nada melhor do que monopólios regionais, o parceiro plutocrático da aristocracia. O resultado que hoje temos combina o pior dos dois mundos e minimiza as forças do desenvolvimento. Uma burguesia que deveria ser progressista, anti-privilégios e anti-monopólios, se torna uma burguesia aristocrata, uma perfeita contradição em termos. O capitalismo progressista torna-se quase impossível. Com medo de crescentes revoltas populares, a burguesia nacional alia-se aos latinfundiários, à igreja, ao exército e ao capital internacional. É uma burguesia não-burguesia, ou burguesia do atraso econômico. A análise é de Paul Baran, em seu excelente texto “A Economia Política do Atraso“.

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Cito aqui uma passagem memorável:

“A possibilidade de solucionar o entrave econômico e político que prevalece em países subdesenvolvidos nas linhas de uma capitalismo progressista desaparecem por completo. Aliando-se aos outros segmentos da elite, a classe média avanças através de posições estratégicas. Com medo de que desentendimentos com os latinfundiários fomente movimentos radicais e populistas, a classe média abandona quaisquer atitudes progressistas em termos de reforma agrária. Com medo de que desentendimentos com a igreja e com o exército possam enfraquecer a autoridade política do governo, a classe média se distancia das correntes liberais e pacifistas. Com medo de que hostilidades contra interesses internacionais possam retirar-lhe o apoio internacional em caso de uma revolta popular, os capitalistas nacionais deserdam suas plataformas anti-imperislistas e nacionalistas”

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