quarta-feira, 20 de julho de 2011

Profº Dário Barbosa (PSTU/CONLUTAS CSP) divulga carta aos servidores da educação em greve no RN

Carta aos estimados e estimadas trabalhadores e trabalhadoras em Educação!

“Contra a intolerância dos ricos, a intransigência dos pobres. Não se deixar cooptar, não se deixar esmagar. Lutar Sempre"! (Florestan Fernandes).

Nós aprendemos no dia a dia, nas relações sociais construídas no trabalho, na família, nas ruas, nos bares, nos locais de esporte, cultura e lazer, que em um debate, em uma discussão ou até mesmo em um bate boca a ponto de se ir às vias de fato, que quem fala mais alto ou quem faz maior número de ameaças, nem sempre é quem de fato tem razão ou segurança para fazer o que está falando e prometendo.

No caso da nossa greve, os poderes executivo, (representado por Rosalba Ciarline, pelo secretário do gabinete civil Paulo de Tarso e pela secretária de educação Betânia Ramalho), Judiciário (representado pelo procurador, promotoria da educação, desembargador e ministério público) se unem numa cruzada conservadora e reacionária para atacar os trabalhadores em greve. O poder legislativo (deputados) se soma a eles pela omissão.

Mas qual a leitura que devemos fazer desses senhores e senhoras dos três poderes tão degenerados, depravados e promíscuos uns com os outros? Eles falam com todo rancor e desprezo dos trabalhadores na mídia vendida que a greve é ilegal e, portanto, nós temos que obedecer a decisão da justiça. Ou seja, nós temos que voltar imediatamente, sem reclamar, às salas de aula e fazendo de conta que está tudo bem com a educação pública estadual para não impedir os alunos de receberem 200 dias letivos. Segundo eles, os alunos não podem nem devem ser prejudicados por uma greve.

Depois de setenta e sete dias de greve os três poderes promíscuos dizem que: se não voltarmos às salas de aula, eles, senhoras e senhores honrados e cumpridores de seus deveres, irão punir o sindicato com multa diária de R$ 10.000,00 por cada dia de desobediência. Irão também contratar professores para ministrarem aulas aos alunos do terceiro ano do segundo grau para que os mesmos não percam o vestibular e o ENEM. Portanto, ameaçam substituir todos os professores do segundo grau da rede estadual. Esses senhores e senhoras paladinos da justiça afirmam também que irão responsabilizar o SINTE civilmente, para que nosso sindicato pague os custos com esses professores. Prometem sob fortes ameaças que vão suspender as consignações que os sócios do SINTE pagam todo mês. Mas esses senhores e senhoras que têm mais medo do povo que o diabo tem da cruz que eles e elas beijam todo dia, juram que vão demitir todos os grevistas que não obedecerem a eles e elas. Essa é a vontade desses senhores e senhoras que adoram crianças, adolescentes e jovens de escolas públicas, principalmente as de periferia que eles e elas morrem de medo e sentem náuseas e querem distancia. Não satisfeitos com tantas ameaças agora querem instaurar 45 mil processos administrativos para demitir todos os trabalhadores em educação do Estado. Ameaçam com demissão em massa como se o serviço público fosse uma de suas fábricas e os trabalhadores em educação seus empregados.

No conflito entre esses senhores e senhoras que representam os três poderes e os trabalhadores em educação que são representados pelo nosso sindicato, não somos nós que estamos desesperados. São eles e elas que estão desesperados e comprovam seu temor através desse rosário de ameaças. Se forem realmente executar o que pretendem e da forma como esses poderes trabalham, principalmente com a agilidade com que o poder judiciário trabalha, eles precisarão no mínimo do resto do ano só para saber de fato quantos de nós estamos em greve e para demitir a todos levarão pelo menos uns dez anos. Como esses senhores e essas senhoras dos três poderes respeitam as leis, não podem demitir todos os grevistas antes desses prazos. Como a proposta é dos dezesseis promotores que constituem o Ministério Público, e enquanto não somos todos demitidos, esperamos que esses dezesseis homens e mulheres da lei tenham o mesmo poder que utiliza contra nossa greve, para fazer o governo retirar os presos das delegacias, os pacientes dos corredores do Walfredo Gurgel e impeçam com punições severas que os empresários de vários setores da economia poluam os rios Pitimbú e Potengi, destruam os manguezais e as dunas com seus empreendimentos predatórios. Talvez assim, quem sabe pudéssemos começar a acreditar que essa instituição chamada Ministério Público realmente está a serviço da justiça e do bem público. Não temos mais idade para acreditar em saci pererê, mula sem cabeça e cuca personagens do mundo da fantasia do Sítio do Pica Pau Amarelo.

Na verdade, nossa greve demonstra que a rainha está nua, o rei e seus lacaios estão nus e os trabalhadores dão vibrantes gargalhadas com o desespero e o nervosismo da corte.

O governo sabe que o ano letivo de 2011 já está quase comprometido. As ameaças, portanto, não são sintomas de força, mas de desespero e de preocupação porque se o ano letivo for perdido, eles também serão responsabilizados pelos organismos internacionais como Banco Mundial, UNICEF e várias instituições de avaliação das metas que devem ser cumpridas pelos governos. O MEC também vai cobrar os resultados das avaliações institucionais e vai questionar e procurar saber por que a educação do Estado que já é ruim piorou ainda mais em 2011? Ao constar o desastre pelo não cumprimento do ano letivo por causa da nossa greve, que só aconteceu por responsabilidade dos três poderes, o governo federal poderá, inclusive, não renovar convênios, reduzir verbas do FUNDEB e não transferir verbas de instituições financeiras internacionais como Banco Mundial que financia projetos educacionais na America Latina.

Na verdade as ameaças contra os trabalhadores em educação são um sinal de que os três poderes já estão sendo pressionados para que o ano letivo aconteça ainda em 2011. Mas, como se consideram deuses, senhores e senhoras infalíveis, jamais admitirão que são os únicos responsáveis, sendo assim, farão de tudo, como já estão fazendo, para que a sociedade também nos criminalize pela perda dos ano letivo. Eles e elas sabem muito bem das dificuldades de termos 200 dias letivos em 2011 e é justamente por isso que com 80 dias de greve ainda não suspenderam o pagamento nem cortaram nosso ponto. Sabem que, se cortarem o ponto e descontarem dos nossos salários os dias parados nesse momento em que a greve se encontra, não seremos obrigados a repor nenhuma aula, a repor nada.

Na vida, no nosso dia a dia, muitas vezes constatamos que, o que parece ser força na verdade é fragilidade, o que parece ser verdade não passa de mentira e o que parece ser poder não passa de uma grande farsa. Nesse exato momento se os trabalhadores em educação atentarem para o que está acontecendo e os motivos dessas ameaças, vão compreender que a situação do governo, da secretária de educação e do secretário do gabinete civil não é lá tão confortável, pelo contrário todos estão numa situação bastante incomoda. Se os trabalhadores compreenderem isso e tomarem como uma grande lição de vida tudo o que nossa greve representa, com certeza irão se manter firmes e lutar pelo fortalecimento e continuidade da greve que já é a mais longa de nossa historia. Não estamos lutando apenas pelos planos de carreira e por melhorias na educação. Também estamos lutando contra esses senhores e senhoras dos três poderes que não admitem nem suportam ser contrariados por pessoas, segundo eles e elas, tão insignificantes, desprezíveis e desnecessárias à sociedade como os trabalhadores em educação pública do Rio Grande do Norte. Acreditam certamente que a sociedade só precisa deles: governadores, secretários, deputados, promotores, procuradores, juízes e desembargadores.

Um abraço. Dário.

Nenhum comentário: