quarta-feira, 13 de junho de 2012


Cidades
Edição de quarta-feira, 13 de junho de 2012 

A crise do ensino médio

Educadores e entidadess repercutem matéria de O Poti sobre as graves estatísticas do ensino escolar no RN
Francisco Francerle  

Ainda repercute, nas mídias sociais, a reportagem da última edição de O Poti sobre a situação do Ensino Médio no Rio Grande do Norte em que a secretária Estadual de Educação, Betânia Ramalho, afirma que, dentre outras causas do problema, a greve de mais de 80 dias dos professores da rede estadual provocou desestimulo e desmotivação, levando muitos alunos a abandonarem a escola. A reportagem de O Poti publicou estatísticas do Censo Escolar e do Instituto Brasileiro de Estatísticas (IBGE), revelando que cerca de 19% dos estudantes abandonam o EM e mais de 56% das pessoas com 10 anos ou mais possuam somente o ensino fundamental.


A professora Amanda Gurgel repercutiu reportagem nas redes sociais. Foto: Carlos Santos/DN/D.A Press
A professora Amanda Gurgel encaminhou carta à redação do Diário de Natal, repercutiu o assunto no Twitter e publicou em sua blog a sua revolta com as declarações da secretária culpando a greve dos professores pelo problema da evasão. Da mesma forma, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Rio Grande do Norte, Fátima Cardoso, publicou sua opinião no site do Sinte, elogiando a matéria e demonstrando indignação com as declarações da secretária. Para completar, a coordenadora do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), Cláudia Santa Rosa, também emitiu sua opinião.

Segundo a professora Amanda Gurgel, foi revoltante a explicação da secretária estadual de educação sobre o fato." Na verdade, o governo é o verdadeiro responsável pela evasão escolar no RN. Não admito que governo algum desmoralize a nossa luta em defesa da educação pública, utilizando-a como justificativa para a sua própria incompetência, ingerência e indiferença em relação aos problemas denunciados em nossas greves". diz Amanda em seu artigo. A professora, que ficou conhecida em 2011 por denunciar o abandono da educação durante uma audiência pública na Assembleia Legislativa, e ter conquistado as mídias sociais com mais de 1 milhão de acesso no Yotube, também apresentou em seu texto quais as razões que realmente levam os estudantes a desistirem da escola. 

Rodízio

Para ela, há muitas escolas no RN em que os alunos do Ensino Médio têm apenas dois ou três dias de aula por semana porque a direção se desdobrar para contornar o caos fazendo rodízio de turma por falta de professor "Se fizermos um cálculo rápido, vamos perceber que essas pessoas assistem a, no máximo, 144 dias de aula por ano. Uma vergonha", denuncia a professora. E completa: "Agora eu pergunto: que estudante pode se sentir estimulado a frequentar uma escola em que não tem professor de Português, de Química ou de Matemática, estando às vésperas do vestibular?". De acordo com Amanda Gurgel, as pessoas desistem de ir à escola porque não estão com a vida ganha e não têm tempo a perder brincando de ir à escola. "Os alunos desistem de estudar porque veem os seus professores receberem um salário que eles mesmos podem receber como qualquer trabalhador autônomo".

Amanda encerra o artigo acusando o governo de Rosalba Ciarlini (DEM) de fazer um boicote ao ensino público e de mentir sobre os verdadeirosresponsáveis pela evasão escolar. "As pessoas desistem de estudar porque o governo do estado faz um boicote ao ensino público. Depois, cobra que sejamos os redentores e redentoras do país. Com um quadro caótico desses na educação, dizer que a evasão escolar é culpa da greve dos professores é mais do que uma mentira, chega a ser uma "provocão", conclui Amanda.

Sindicalista elogia abordagem

A presidente do Sinte/RN, Fátima Cardoso, disse que a expressão "Ensino Médio na UTI", utilizada pelo repórter, não poderia ter sido empregada de forma melhor. "Desde 2000 o RN tem sido o lanterninha nos resultados das provas de matemática e de língua portuguesa. E o que foi feito para resolver a situação? Nada.", disse ela. As condições precárias de trabalho são denunciadas constantemente pelo Sindicato e por toda a comunidade escolar, no entanto, o quadro se repete indefinidamente. O Governo não reconhece, por exemplo, que uma escola que só oferece quadro e giz não é, de forma alguma, atrativa o suficiente para manter o estudante lá", avalia a dirigente.

Para a sindicalista, uma sociedade que se reconfigura com a utilização de mídias sociais, da banda larga, da internet móvel, exige dos gestores uma nova visão sobre o ensino. "Não se pode conceber um modelo de ensino como o que se tinha há décadas atrás. Os tempos mudam e é preciso que a escola os acompanhe. Como poderemos ter um currículo atrativo, se nãotemos uma infraestrura mínima para poder envolver os alunos".

Educadora aponta baixa autoestima

Já a educadora Cláudia Santa Rosa, coordenadora do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), a greve é simplesmente um dos problemas diante de uma diversidade de questões que precisam ser analisadas, até porque ela realmente é prejudicial para todo mundo e para todas as etapas de escolaridade. Mas para ela, um grande problema que leva os alunos a abandonarem os estudos no ensino médio é a baixa autoestima, diante do acúmulo de dificuldades de toda trajetória escolar. "Quando chegam ao ensino médio, eles se acham incompetentes para fazer o vestibular e não vislumbram uma trajetória acadêmica e, preferem ingressar no subemprego do mercado de trabalho".

Para Santa Rosa, o problema da falta de autoestima é decorrente da desmotivação na escola, fruto da falta de professores, greves, baixo conteúdo assimilado no ensino fundamental, levando para o resto da vida as dificuldades de aprendizado. "Enquanto isso, lá fora o mundo está pulsando de novas tecnologias e quando se olha para dentro da escola, muitas delas até têm equipamentos mas não foram instalados por falta de verba para isso. Há escolas que têm laboratórios inteiros completos, mas nunca foram usados os equipamentos porque não há recursos para instalação", explica ela. 

Cláudia critica que a própria secretaria comemorou, com ênfase, os baixos índices de reprovação, mas esqueceu de revelar os de evasão. "Ora se os meninos estão se evadindo, quem fica logicamente que não vai ser reprovado. Na hora que têm índices de evasão e índices baixos de reprovação, conclui-se que eles estão se evadindo antes de terminar o ano e evitando, é claro, de serem reprovados. Por isso, as nossa taxas de evasão são altas e baixas de reprovação. Não podemos comemorar exceções, precisamos que o sucesso seja a regra e não a exceção ", afirma.  

Fonte: Diário de Natal

Nenhum comentário: