quinta-feira, 2 de agosto de 2007

MEDO E TRAIÇÃO - ATO I O MEDO


MEDO E TRAIÇÃO

ATO I

O MEDO

Os homens sempre tiveram medo. O medo no homem não tem origem biológica. O medo só é possível por que o homem é um ser de cultura, capaz de elaborar e interpretar representações sociais. O medo varia culturalmente, neste sentido ele é múltiplo e entre os homens, é resultado principalmente da faculdade de imaginar. Por isso, ele é de natureza social.
A difusão do medo faz parte da dominação social e política sobre os indivíduos. Ela cria a cultura do medo. Essa difusão serve para manter todos os indivíduos na normalidade da cultura instituída e muitos dos ritos coletivos, alimentados pelo medo, servem para aliviar as tensões psíquicas, funcionando como solução para desequilíbrios que ameaçam a ordem.
O ser humano é um dos animais que aprendem a ser com os laços que o ligam ao social, sem isso não seria possível existir humanidade. O rompimento desses laços levaria a não existência como ser.
O medo se encontra ligado à idéia de poder: poderes humanos ou sociais e não humanos ( sobrenaturais, sagrados). Pelo processo de sua própria educação, o homem é habituado a temer e, portanto, habituado ao medo. Os medos estão associados aos temores de castigo, a prováveis faltas, transgressões e desobediências: o que é sempre o temor de colocar a vida em risco. As sociedades se valem dos mitos de castigo para incutir nos indivíduos o medo, de modo a evitar que desobedeçam às normas sociais ou desrespeitem a vontade dos deuses, das autoridades, dos antepassados, etc
A socialização do indivíduo humano funciona como um condicionamento. A expressão vida natural remete antes a um modelo de vida instituída. Uma imposição de normas de conduta e difusão de crenças segundo as quais a própria realidade imposta é vista como necessária, inevitável e imutável. Isso faz com que o indivíduo aceite sua sociedade tal como ela é, sem questionar.
Medo e poder se entrelaçam. Um depende do outro. O poder cria carrascos e um séqüito monstruoso e ignóbil. O medo se personifica no Estado, na autoridade política ou militar (policial), no burguês, na falta da manutenção vital da sobrevivência, etc. Em casos de conflitos, (uma greve, por exemplo) o poder dinamiza suas redes. No caso concreto da greve dos servidores da educação poder e medo andam de mãos dadas.
O corte de ponto e a suspensão do salário por parte dos governos Vilma e Lula demonstram muito bem essa relação. É uma atitude típica do poder e de uma lógica neoliberal e de um metabolismo social degradante. Poder antes de tudo vil e covarde. Poder que espalha seus tentáculos, ameaça, não aceita outra ordem mais democrática, se esconde nas redes da democracia burguesa, não dialoga de forma clara. O poder tem medo de claridade. Ele é sombrio. Por isso, persegue, pune, humilha, corrompe, etc.
Numa greve os mais fracos temem e os covardes se escondem em sutilezas egoístas e individualistas. Existe uma cegueira no medo. É a cegueira daqueles que enxergam, mas não querem ver.


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